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O que aconteceu com o Petróleo?

Desde a noite do dia 19 de abril foi possível observar uma queda bastante significativa nas cotações do barril de Petróleo WTI (negociado em Nova York) com preços em patamares sem precedentes. Após iniciar o ano em cerca de US$ 60, o ouro negro chegou a ser negociado abaixo de US$ 2.


Atenção: Apesar do contrato de petróleo relativo a maio/20 ser negociado a US$ 2, não devemos esperar que esse seja o novo patamar da commodity (ver motivo #3). Será preciso acompanhar a cotação dos próximos contratos para ter um valor mais próximo à realidade (como por exemplo o contrato de junho/20 a US$ 22).


Vamos os principais motivos para essa queda:


1) O principal catalisador dessa queda histórica, está relacionado ao COVID-19. Com a baixa atividade industrial ao redor do mundo, há uma queda significativa na demanda pelo petróleo, o que impulsiona os preços para baixo.


2) A OPEP + (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), em sua última reunião, acordou um corte de produção de 9,7 mbpd (milhões de barris por dia) com o intuito de equalizar a produção com a queda na demanda. Entretanto, há um consenso do mercado de que o corte é insuficiente para segurar os preços, já que a demanda mundial por petróleo era de cerca de 107 mbpd pré-COVID e espera-se uma retração superior aos corte realizados.


3) O movimento de baixa foi intensificado pela proximidade do contrato relativo à maio de 2020, que tem sua data de expiração no dia 21 de abril.

Área em preto: Contrato futuro de petróleo com expiração em Maio/2020. Linha Azul: Contrato relativo à junho de 2020.
Área em preto: Contrato futuro de petróleo com expiração em Maio/2020. Linha Azul: Contrato relativo à junho de 2020.

4) Como podemos observar no gráfico acima, o contrato relativo a junho/20 (linha azul) é negociado a US$ 21,93. Essa diferença (entre o contrato de maio e junho) foi um outro fator que acelerou a queda, pois caso os detentores do contrato de maio desejassem uma extensão para junho, deveriam pagar a diferença entre os dois contratos (que no momento é superior a US$ 20).


5) Ainda há um quinto motivo, pois dada a brusca desaceleração na demanda, os produtores não estão conseguindo estocar a commodity e precisam se desfazer da produção, com tanques próximos ao limite de armazenagem.


Mas não seria mais fácil parar a produção?


Não é tão trivial. Há um custo operacional muito grande para iniciar e parar a extração de petróleo. Outro ponto que é bastante significativo: Esse patamar de preços já não cobre os custos de produção (breakeven) de modo a tornar a operação lucrativa na maioria dos países.


Para a Petrobras, o custo breakeven de produção aproximado segue nos níveis abaixo:


Projetos existentes: ~US$ 16

Próximos anos: ~US$ 25 barril / ~US$ 21 pré-sal

Novos Projetos: US$ 35 ~ 45


Esses valores são suficientes para pagar 100% dos custos e despesas no campo, incluindo descomissionamento; custos operacionais de afretamento das plataformas, manutenção do ativo e pagamento de participações governamentais.


Consequências:


Além da diferença entre o patamar atual do barril e os breakevens apresentados, o nível atual da commodity traz risco para o programa de desinvestimento da Petrobras, já que a precificação dos ativos está ligada ao cenário de preços.


Como efeito paralelo, com a queda no preço de fontes de energia não renováveis como o petróleo, devemos ter um atraso na adoção de fontes de energia renováveis, como a eólica e a solar, dada uma ausência de atratividade nos preços que pudesse impulsionar essa migração para energias limpas.


Há inclusive, uma preocupação mundial em relação aos bancos que possuem contratos de empréstimo com empresas produtoras de petróleo, uma vez que a saúde financeira dessas empresas está em risco e podem eventualmente se tornar inadimplentes com o setor financeiro.


Por outro lado, há quem se beneficie. Um barril de petróleo mais barato traz consigo a redução de outras fontes de energia derivadas, como diesel e gasolina, o que é bastante positivo para empresas que possuem custos representativos em frete e combustível (cias aéreas, transportadoras, etc.)


Dada a insustentabilidade nos preços, é de se esperar nos próximos dias uma nova medida dos governos ou da OPEP + para conter a instabilidade na commodity. Além disso, é necessária uma previsibilidade maior sobre o real efeito de queda na demanda mundial. Somente quando o novo patamar de demanda estiver claro, será possível tomar medidas que visem adequar a produção de uma forma consistente.

 

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Disclaimer: Sendo uma publicação de caráter informativo, este conteúdo não configura recomendação de compra ou venda sob qualquer aspecto. Reiteramos nossa orientação de que o investidor amplie seu conhecimento antes de tomar uma decisão a respeito de qualquer ativo.

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