Anderson Meneses, CNPI

30 de jun de 20213 min

Um possível sinal de alerta no mercado americano.

Após uma rápida recuperação da queda provocada pela pandemia, a bolsa americana já se aproxima novamente das máximas históricas e se consolida em um ''bull market''. Entretanto, além da preocupação recente com inflação americana, alguns indicadores ignorados pelo mercado sugerem comportamentos característicos de uma euforia descontrolada conforme detalharemos a seguir.

Durante os últimos 12 meses, cerca de 750 empresas não lucrativas inundaram o mercado americano com follow-ons buscando captar recursos em um mercado ávido por oportunidades. Apesar de esse ser um comportamento relativamente normal (conforme pode ser observado no gráfico a seguir de 2016-2021), e esperado de empresas que estão passando por dificuldades financeiras, o que chama a atenção é a representatividade e facilidade com que essas empresas, não lucrativas, estão conseguindo capital, superando em até quatro vezes as emissões de empresas lucrativas no primeiro trimestre de 2021.

Evolução do nível de emissões de ações de empresas lucrativas (barra preta) vs empresas não lucrativas (barra vermelha)

Vamos a alguns exemplos:

Bastante conhecida pelo movimento causado pelo WallStreetBets, a Gamestop acessou o mercado de capitais para emitir ações não somente uma, mas duas vezes nos 6 primeiros meses de 2021. Com a promessa de investir em iniciativas de crescimento e de reforçar seu balanço, a empresa não teve dificuldades para conseguir capital no mercado sustentar o patamar irracional que suas ações protagonizam no momento (US$ 210).

Querida por muitos investidores e tida como uma ''meme-stock'' pelo mesmo fórum que impulsionou a Gamestop, a rede de cinemas AMC também emitiu novas ações e captou cerca de US$ 1,25 bilhão em oferta recente. Apesar do otimismo com a retomada da normalidade e da volta do público às salas de cinema poder significar um impulso para a empresa, o que nos chama a atenção é que a AMC está precificada em US$ 28,32 bilhões, um valor 50% superior à 20/03/2015, quando atingiu sua cotação máxima pré-pandemia e era possível observar uma demanda substancialmente superior à atual.

Desempenho das ações da rede de cinemas AMC nos últimos 5 anos.

Mas se a empresa está conseguindo captar recursos, ela não pode eventualmente se tornar lucrativa novamente, e deixar de ser uma empresa mais arriscada? Em partes, sim. A narrativa é sempre essa, mas o que precisa ser colocado na balança é a probabilidade dessas empresas virarem o jogo e fazerem valer a confiança e o capital investido.

Outro fator que nos chama atenção, é que nas últimas duas vezes em que esse fenômeno ocorreu (de maior emissão de ações por 'empresas não lucrativas' vs lucrativas), estávamos ou no início de um ''bear market'' ou de fato em um (sem ainda ter esse conhecimento). A história se repete, como em 2000 e 2008. Observe no gráfico a seguir:

Empresas não lucrativas inundaram o mercado secundário de ações nos Estados Unidos

O que os fatos acima nos mostram é que podemos ter muitos dólares disponíveis para poucas oportunidades, e esse dinheiro acaba indo para empresas especulativas. A história nos mostra o quanto certas atitudes gananciosas e especulativas, se tornam precedente para uma virada de chave no mercado de ações. Um único indício não é capaz de mover um mercado inteiro, mas todo bear-market começa com um pequeno sinal.

Adicionalmente, temos ainda o fantasma da inflação. Podemos falar de forma mais abrangente sobre esse tópico em uma publicação específica, mas de forma resumida gostaria de registrar que acreditamos que os próximos meses (que devem refletir melhor a retomada) serão determinantes para encerrar o debate se a inflação americana será estrutural ou transitória. E essa pode ser uma ameaça ainda maior para um mercado americano inundado por growth stocks que dependem e muito de taxas de juros próximas a zero para que seu valor presente seja condizente com o valuation esticado que apresentam hoje.

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